E continuando na temática de arquitetura e covid-19, a reflexão dessa semana é sobre as transformações que esse vírus trará para a arquitetura de forma geral. Falei no posto anterior, na semana passada, sobres os impactos na cidade e de como poderíamos e devemos ter cidades mais saudáveis. O objetivo hoje é refletir sobre as mudanças de ações e perspectivas no projetar, em criar espaços que sejam ainda mais adaptáveis à novas realidades pandêmicas. Como nosso trabalho será transformado? Enquanto arquitetos, sabemos que não temos a capacidade de curar enfermidades, mas é de nossa responsabilidade criar espaços que propiciem a cura e além disso, não gerem enfermidades. Com esse contexto, a ideia é compartilhar um pouco do que já li e acredito que serão novas tendências no projetar para pessoas, na arquitetura de forma geral.
Uma das principais estratégias para a prevenção ao contágio desse coronavírus é o isolamento social. Nessa temática, alguns estudos já preveem uma arquitetura que proporcione o desenvolvimento das atividades sem contato físico. É a integração tomando uma nova forma. E para isso, o uso da tecnologia será fundamental na criação desse novo contexto. Um forte exemplo é o trabalho on-line. Sem dúvida muitas empresas e colaboradores já estão adequando sua forma de trabalho, assim como seus espaços de trabalho. E para este contexto os impactos vão além do arquitetônico, são também econômicos.
Embora estejamos vivendo fases de isolamento social, a percepção das ações coletivas na busca do bem-estar da sociedade é notável. Acredito que estamos iniciando um processo de reconhecimento do que é viver em sociedade, onde para tal, precisamos agir em prol do coletivo e não do individual. Nesse contexto, acredito que esse momento pode ter colocado ainda mais holofotes no que muito urbanistas já falam há muito tempo. O planejamento urbano irá mudar. Mas acredito que essas mudanças ocorrerão mais no cunho político-social. Será mais valorizado e implementado, em escalas macro e micro.
E por falar em micro, acredito que a arquitetura de uma forma geral vai se voltar aos detalhes. Essa já é uma realidade em projetos para a área da saúde. Como sempre trabalhos para minimizar e combater infecções, os projetos precisam de lupa, ampliando as linhas projetuais e pensando nas soluções corretas aos detalhes, desde soluções de fluxo até materiais adequados. O que esse novo contexto nos trouxe é a percepção de que é necessário expandir esses conceitos e aplica-los em todos os espaços, sejam eles de tratamento de enfermidades ou não. É a percepção de que saúde está em todos os espaços. Do macro da cidade, ao micro, que pode ser a maçaneta da porta de acesso a um lavabo.
E é assim que aos poucos vamos nos adaptando com este novo normal. Entendo a nova realidade e analisando como a arquitetura pode trabalhar em prol de espaços mais qualificados e adaptados às novas circunstâncias. A história nos mostra que sempre temos grandes transformações sociais pós momentos traumáticos. Na arquitetura não é diferente, a final a arquitetura é um reflexo social.
Imagem de capa: Estufas criadas pelo Mediamatic Eten para atender durante a pandemia.
Foto: Willem Velthoven/Anne Lakeman/Mediamatic Amsterdam