Mulheres, arquitetura e o Pritzker

O Prêmio Pritzker é o reconhecimento mais importante que um arquiteto(a) pode receber em vida. A honraria é outorgada todos os anos a arquitetos e arquitetas cuja obra construída “tenha produzido significativas contribuições para a humanidade ao longo dos anos”. Por esta razão, o júri presta homenagem a pessoas e não a escritórios. Até 2020 foram 42 edições. Mulheres receberam o prêmio em 4 edições, todas as demais a honraria foi entregue a homens. Na edição de 2020 duas mulheres foram premiadas. Devido a este fato temos um total de 05 mulheres que já receberam o Pritzker.

E o que significa somente 05 mulheres terem recebido o Pritzker?
A resposta é simples: O que é a arquitetura se não uma representação da sociedade?

Esse texto tem o intuito de despertar esse olhar. Hoje é comemorado o Dia Internacional da mulher. Sabemos que esse dia deve ser um dia de ato político, e não é por acaso. Essa premiação da arquitetura é um reflexo do posicionamento da mulher em todas as esferas da nossa sociedade. É importante dizer que representa na verdade um recorte dessa sociedade. Isso porque todas as mulheres vencedoras até o moemnto são brancas e cisgênero. Além disso, a primeira arquiteta mãe a receber o prêmio foi Carme Pigem, suas antecessoras não tiveram filhos.

O texto abaixo fala um pouco das obras destas cinco mulheres que já receberam esse prêmio. Mulheres que representam muitas que virão e que, fizeram e fazem um grande movimento para mudar essa realidade. Utilizam a arquitetura para despertar consciência e ocupar espaços. São o farol que jogam a luz para iluminar o nosso longo caminho, mostrando que as barreiras existem, mas que é possível mudar essa realidade. Deixar não só o Pritzker, mas a sociedade mais igualitária. 

Zaha Hadid – 2004

Zaha Hadid nasceu na cidade de Bagdá, no Iraque, e construiu um importante legado na arquitetura com grandes obras espalhadas pelo mundo, marcadas pelas curvas e traços orgânicos. Formada na renomada Architectural Association School of Architecture’s, em Londres, teve a oportunidade de conhecer dois professores com quem trabalhou posteriormente e foram fundamentais, principalmente para os primeiros passos da arquiteta na profissão: Rem Koolhaas e Elia Zenghelis.

Eles foram tão marcantes que, em seu discurso na premiação do Pritzker, em 2004, Zaha Hadid prestou homenagem aos dois profissionais:

“o entendimento e o entusiasmo deles pela arquitetura acenderam minha ambição, e o encorajamento deles me ensinou a confiar até nas minhas intuições mais estranhas.”

Zaha Hadid fundou seu próprio escritório, nos anos 80, o Zaha Hadid Architects, que possui projetos espalhados pelo mundo, com diversos prêmios, o que fez com que seu nome se tornasse reconhecido mundialmente na área. A arquiteta criou uma linguagem autoral que por sua expressividade se tornou extremamente reconhecível, com linhas ousadas e expressividade escultural.

Zaha Hadid faleceu precocemnte em 2016, aos 65 anos. Ela é sem dúvida a arquiteta mais conhecida do mundo, além de ser a primeira mulher a receber o Pritzker.

Kazuyo Sejima – 2010

Nascida em Ibaraki, em 1956, no Japão, Kazuyo Sejima se formou em Habitação e Arquitetura (Departamento de Economia Social e Familiar) pela Japan Women’s University, e obteve o título de mestre pela mesma universidade.

Estagiou com o arquiteto Toyo Ito, com quem trabalhou até 1987, quando estabeleceu seu próprio escritório, Kazuyo Sejima & Associates. Em 1992, foi nomeada Jovem Arquiteta Japonesa do Ano pelo Instituto de Arquitetos do Japão. Em 1995, fundou juntamente com Ryue Nishizawa, que era seu colaborador, o escritório SANAA, criado fundamentalmente para encarar e competir em equipe com o trabalho de grandes projetos e concursos internacionais. Kazuyo Sejima foi também a primeira mulher a dirigir a mostra internacional de arquitetura de Veneza, a 12ª edição, em 2010, cujo tema principal foi: As pessoas se Encontram na Arquitetura – o discurso cultural da arquitetura na sociedade contemporânea e seus simbolismos inerentes.

Kazuyo Sejima não considera nenhum de seus projetos concluído até que seus habitantes ponham vida nele. O aspecto social de seu trabalho é realizado através de um estilo fluido que se mistura com a natureza e mistura espaços ao ar livre com o interiores: metal, vidro e mármore para linhas transparentes de tirar o fôlego, mas delicadas que suavemente deslizam nas paisagens. A estética sofisticada de Kazuyo Sejima é uma busca por leveza, desmaterialização e idealismo.

Carme Pigem – 2017

Carme Pigem é uma das integrantes do estúdio RCR, localizado em Olot, pequena cidade da região da Catalunha, na Espanha, de onde é natural. O escritório foi fundado em 1987, logo após a sua formação em arquitetura, com dois colegas de sala. Graduou-se em arquitetura na Escuela Técnica Superior de Arquitectura del Vallés (ETSA Vallés) e, além dos seus projetos pelo mundo, também atua como professora.

Apesar de ter estudado na Escuela Técnica Superior de Arquitectura del Vallés, próxima a Barcelona, foi o município do interior, de pouco mais de 34 mil habitantes, o cenário de grande parte de sua vida. E essa relação peculiar com o interior — em contraste com grandes arquitetos que habitam grandes cidades — é que dá a tônica do trabalho de Pigem. Sua obra se caracteriza por uma singular relação com a paisagem, por composições geométricas elementares e pelo uso de materiais ousados e muito expressivos.

Além da sincronia entre as mentes criativas dos três sócios, o que se nota em seu trabalho é uma arquitetura que emerge da paisagem; uma narrativa composta igualmente pela natureza e pela obra construída.

Yvonne Farrell e Shelley McNamara – 2020

Yvonne Farrell e Shelley McNamara representam, em 41 anos, a primeira dupla de mulheres a receber o prêmio Pritzker e são co-fundadoras do escritório Grafton Architects, com sede na Irlanda.  Educadoras e arquitetas, reconhecidas por suas abordagens poderosas, porém delicadas. Suas intervenções contextuais e modernas são muito atentas à história, demonstrando altos níveis de sensibilidade e habilidade.

A dupla estudou junto na Escola de Arquitetura da University College Dublin (UCD). Ao se formarem, Farrell e McNamara tiveram a oportunidade de ensinar. De fato, elas sempre consideraram essa parte da profissão como uma “realidade paralela […] e uma maneira de destilar [sua] experiência e presenteá-la para outras gerações futuras”.

Yvonne Farrell e Shelley McNamara exercem arquitetura juntas há quarenta anos de uma maneira que reflete claramente os objetivos do Prêmio Pritzker: reconhecer a arte da arquitetura e o serviço consistente à humanidade, como evidenciado por um conjunto de obras construídas.  Além disso, as arquitetas foram nomeadas em 2018 como co-curadoras da 16ª Exposição Internacional de Arquitetura com o tema FREESPACE.

Imagem de capa: Escola Zollverein |SANAA

Fonte:

www.designwanted.com/architecture/archi-icon-kazuyo-sejima/
www.archdaily.com.br/br/882981/kazuyo-sejima-habitar-entre-o-material-e-o-abstrato
www.archdaily.com.br/br/office/sanaa
www.archdaily.com.br/br/934793/yvonne-farrell-e-shelley-mcnamara-recebem-o-premio-pritzker-2020
www.pritzkerprize.com/biography-rafael-aranda-carme-pigem-and-ramon-vilalta
www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/carme-pigem-rcr-architectes-pritzker-cria-relacao-unica-entre-arquitetura-e-paisagem/
www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/zaha-hadid-a-arquitetura-da-rainha-das-curvas/

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