Em 2017 fiz minha segunda pós-graduação, desta vez em Barcelona: La Arquitectura del Siglo XXI. Esta pós graduação é realizada pelo LA(H)B – Laboratorio Arquitectura Hospitalaria Barcelona e certificada pela UPC (Universitat Politecnica de Catalunya) e Escola Sert.
Neste post vou compartilhar com vocês minha experiência, percepções, processos e aprendizados, respondendo as perguntas enviadas no meu instagran. Este é o primieto post da minha série de #tbtmonizenolahb. Será um prazer compartilhar toda essa experiência!
- Como foi o processo de busca do curso, local, matrícula?
Eu sempre tive vontade de estudar fora do Brasil. Como não tive oportunidade de fazer isso durante a faculdade, decidi que faria uma pós-graduação. A escolha por esta em específico ocorreu por dois motivos. O primeiro foi porque eu já havia feito uma outra pós, em São Paulo, e analisando a estrutura de ambas vi que as abordagens eram completamente diferentes. E segundo, Mario Correa é um arquiteto reconhecido internacionalmente por suas obras e contribuições na arquitetura para a saúde, ter aulas com ele seria enriquecedor. Todo o processo de matrícula e comunicação com o curso foi realizado pela internet.
- Qual o idioma da pós-graduação? É obrigatório teste de proficiência?
A pós foi inteiramente em espanhol e não foi exigido qualquer comprovação de fluência na língua. Embora, a maioria dos professores eram da Espanha e também falavam catalão, outro idioma que também é oficial em Barcelona e, isso impacta no sotaque e vocabulário dos professores. Mas o espanhol era o idioma oficial da pós. É muito importante que realmente tenha a fluência. Na turma tínhamos alunos de nove nacionalidades diferentes, com sotaques diferentes.
- Qual a carga horária, tempo de duração e sistemática de trabalho?
A pós tinha 400 horas de duração e foi ministrada de 2 de outubro de 2017 até 01 de dezembro do mesmo ano. A aulas ocorriam de segunda a sexta, sendo 08 horas diárias, das 10h as 20h. As aulas eram divididas em dois blocos: no período matutino as aulas teóricas e no período vespertino o ateliê de projeto ministrado por três professores.
- Quantos alunos tinham na turma?
A turma era formada por 11 arquitetos. A capacidade máxima de alunos era 15. Isso é muito interessante porque torna o processo de aprendizado mais individual e rico.
- Existe algum pré-requisito ou nível de experiência exigido para quem tem interesse em ingressar na pós?
O processo seletivo foi realizado através de análise de currículo e/ou portfólio. A exigência era diploma em arquitetura. A turma bem eclética quanto a experiência em arquitetura para saúde. Tinham profissionais com mais de 18 anos de experiência e profissionais com dois. O interessante da pós é como o desenvolvimento e a avaliação é individual, de acordo com o conhecimento de cada aluno.
- Qual o valor do que está incluso no valor do curso?
Na época o valor do curo era 5.800 Euros e contemplava as aulas e o transporte para as visitas aos hospitais.
- A escola ajuda na busca por moradia?
Na época entrei em contato com eles e, me colocaram em contato com outras alunas que não moravam em Barcelona. Com isso, conseguimos alugar um apartamento e morei com outras duas arquitetas.
- Tem algum trabalho final, TCC, algo do tipo?
Sim. O objetivo era entregar o projeto de um hospital de medida complexidade, para a cidade de Barcelona, com cerca de 22.000 m². O ateliê de projeto, que acontecia todos os dias no período vespertino, tinha como objetivo o desenvolvimento deste projeto. E o que achei mais interessante é que tudo se assemelhava muito ao ateliê da faculdade, só que com profissionais especializados no assunto. O processo de aprovação do projeto passava por uma banca intermediária e uma banca final. Ambas as bancas eram formadas por 3 profissionais, sendo um arquiteto da cidade, um arquiteto membro da vigilância sanitária local e um professor convidado, todos especializados em arquitetura para saúde.
No meu portfólio, aqui no site, vocês podem conhecer mais o meu projeto.
- Com que assuntos/disciplinas você pôde ter contato na pós e como as aulas eram ministradas?
O curso era divido em aulas teóricas e práticas. As teóricas são compostas uma grade de profissionais atuantes no mercado e abrangia aulas para todo o cronograma físico-funcional de um hospital, além de engenharia civil, engenharia de clínica médica, manutenção e administração/gestão de hospitais. As práticas eram as visitas a hospitais de Barcelona e entorno, que ocorriam toda a sexta-feira.
- Qual foi a maior mudança profissional pra você?
Acredito que a maior mudança profissional foi no conceito de saúde. Embora o título da pós-graduação fosse “La Arquitectura de los Hospitales del Siglo XXI” e o curso fosse voltado à arquitetura de hospitais, morar na Europa é vivenciar uma realidade muito distinta da realidade do Brasil. E a qualidade de vida, dos espaços públicos e de todo o contexto urbano impacta diretamente na saúde. De fato ampliei minhas perspectivas sobre espaços para a saúde.
- Quais foram as diferenças que você encontrou entre os hospitais de lá com os daqui?
Os hospitais sempre serão reflexos dos sistemas de saúde adotados. As visitas foram todas em hospitais públicos e acredito que esse foi o grande choque de realidade. A qualidade de arquitetura dos hospitais públicos em nada se comparar aos hospitais públicos que conheço do Brasil (seja por visitas ou por estudos de caso). Os hospitais visitados são “relativamente” novos, mas também fomos em instituições antigas com ampliações e adequações. Mas a valorização dos espaços e a percepção do usuário são pré-requisitos do projetos e foi transformador presenciar esses conceitos aplicados.
- Qual foi o primeiro ponto aprendido lá que você começou a aplicar em seus projetos?
Foram muitos os aprendizados, mas o primeiro que vem a mente é a total separação entre circulações de serviço e sociais, para todos os serviços. É muito interessante a preocupação com a separação de fluxos, não somente por uma questão de segurança, mas também pelo conforto “visual” dos usuários. Os hall e circulações públicas em nada se assemelham aos nossos conceitos de hospital. Vocês poderão ver um pouco disso nas postagens de cada hospital que farei aqui.
- Comparando as duas realidades, há algo que você nunca havia tido contato aqui no Brasil, e foi uma super descoberta para você?
Não considero isso uma descoberta, mas uma surpresa vivenciar. Em um dos hospitais visitados o ar de todos os ambientes são tratados e filtrados por sistemas independentes e controlados, mesmo em setores onde essa caraterística não é obrigatória como internação e circulações. Por isso as janelas de todos os ambientes do hospital não abriam, para minimizar o contato do a externo (sem filtragem) com o ar interno, limpo. Para ter contato com o ar externo os pacientes e colaboradores poderiam ir a alguns terraços existentes. Pensar nesse nível de controle do ar, na realidade até então vivenciada por mim, era algo muito distante.
- Se você pudesse voltar ao tempo, há alguma coisa que você gostaria de ter explorado mais estando lá?
Acredito que eu viveria mais a cidade, se é que isso era possível. Mas viver a cidade nunca seria demais. O curso é muito intenso, e durante os dois meses de aula a atenção foi voltada basicamente para isso. Mas considero que consegui viver muito a cidade, pois fiquei quatro meses lá.
- As técnicas de projeto aprendidas contribuíram nos projetos de realidade no Brasil?
Acredito de vivenciar outras culturas sempre agrega conhecimento. E dessa vez não foi diferente. Embora tenhamos realidades distintas, o conceito de arquitetura para saúde e os aspectos técnicos aprendidos podem ser amplamente aplicados. Sempre há adaptações às distintas realidades, mas entender que arquitetura para saúde é, de certa forma, “universal” foi o grande legado. Arquitetura é para seus usuários, neste caso pessoas, independente do país.