O Hospital Sociosanitário de Mollet, localizado no centro da cidade de Mollet del Vales, foi a segunda visita realizada durante o LAHB/2017. Com a construção do novo Hospital de Mollet (já tenho aqui um posto falando da minha percepção na visita a este hospital), a decisão inicial para o antigo hospital era a demolição e posterior construção de uma nova estrutura sanitária. Com o advento de uma grande crise econômica, novas estratégias foram estabelecidas e optou-se então pela reforma do hospital existente. Com projeto de arquitetura do escritório Mario Corea Arquitectura, é possível vivenciar nesta visita a adaptação e reciclagem de uma estrutura hospitalar construída nos anos 1950 a 1960 aos novos desafios sociais e tecnológicos.
Anteriormente um hospital geral, agora um centro de saúde para cuidar de pessoas em situação de cronicidades e alto risco de fragilidade, cuidados paliativos e subagudos. Uma edificação voltada ao público da terceira idade, com atendimento hospitalar, ambulatorial, Hospital Dia Psicogeriátrico e Hospital Dia de Reabilitação.
Como parte da estrutura do curso, um dia antes da visita, tínhamos aula com o arquiteto responsável pelo projeto para explicações preliminares do projeto e contextualização. Dessa forma, sabíamos um pouco o que encontraríamos tecnicamente nas visitas. No entanto, como arquitetura vai além, perceber e sentir os espaços, é bem diferente de estudá-los. E a primeira percepção que tive nesta visita foi de algo mais palpável, mais próximo da minha realidade de trabalho. Por se tratar de uma reforma a um edifício antigo, muitas características originais predominavam e, adaptá-las à nova realidade foi o grande desafio.
O hospital possui uma planta relativamente simples. Implantado em uma quadra, com ocupação densa do terreno e um pátio central. O que a reforma trouxe foi protagonismo a esse pátio, tornando-o vivo, permitindo que as estruturas assistenciais abraçassem este espaço, dando-o vida e criando assim a apropriação deste espaço pelos pacientes, visitantes e colaboradores.
Além disso, o térreo possui toda a sua fachada envidraçada, abrindo o edifício para a cidade, gerando integração espacial com o entorno. Como anteriormente dito, a implantação “maciça”, com pouco recuo frontal e lateral, gerava um edifício denso e sem integração, seja visual ou espacial, com seu entorno. A proposta para a nova fachada, além de modernizar e qualificar o edifício, principalmente no quesito proteção solar às fachadas leste e oeste, gerou a integração necessária entre hospital e cidade. Agora o edifício faz parte da cidade, qualificando o entorno e gerando valor espacial aos transeuntes. Essas percepções são possíveis através das imagens de antes e depois da reforma.
Por falar em antes e depois, há em uma das circulações sociais do hospital uma espécie de memorial, com painéis que demonstram através de fotos essas mudanças. Ver imagens abaixo.
Sem dúvida, os aspectos externos de implantação e fachada foram as primeiras percepções marcantes. Andar pelas ruas de entorno e perceber como o hospital agora faz parte, como sua integração visual e espacial acontece de forma discreta e harmônica foi enriquecedor. Ao entrar, o pátio. E ao andar em todos os pavimentos: o pátio. É interessante viver e ver os vazios na arquitetura. Sentir os benefícios que eles podem trazer aos cheios. E esse pátio proporciona isso, qualidade de espaço aos cheios. O pátio central permite que os espaços sejam banhados de luz natural e, ao mesmo tempo tenham privacidade. A edificação é então “voltada” para dentro e, ao mesmo tempo, integrada com o entorno.
Os serviços assistenciais foram dispostos tentando ao máximo aproveitar a estrutura de planta existente. A intervenções propostas geraram qualidade espacial ao novo. Dessa forma, embora se tenha um pé-direito mais baixo do que o ideal, as aberturas propostas, a luz, as cores e as integrações com os espaços internos suavizam essa sensação. Esse é o grande “barato” de visitar requalificações. Perceber a qualidade do espaço e depois tentar enxergar as estratégias arquitetônicas utilizadas. E o Sociosanitário possui inúmeras.
Dentre todos os hospitais visitados, somente dois tratavam-se de reformas, sendo o Sociosanitário de Mollet um deles. Foi enriquecedor perceber e viver qualidade arquitetônica em espaços requalificados. Vivenciar o poder de um bom projeto, mesmo em situações não tão benéficas para o uso proposto. É como fazer de limões uma limonada. E, neste caso, todos se beneficiaram, os usuários do serviço de saúde e os usuários da cidade. Assim deveria ser em todo projeto de arquitetura. Talvez seja isso que difere arquitetura de construção.
LINKS PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O PORJETO:
https://hospitecnia.com/proyectos/hospital-sociosanitario-en-mollet-del-valles/
http://mariocorea.com/obras/sanitaria/hospital-sociosanitari-mollet-del-valles
FOTA DE CAPA E FOTOS DE FACHADA ANTES E DEPOIS:
FONTE: ARCHDAILY