Hospital de Mollet – Minhas Percepções

Construído para substituir o pequeno hospital existente no centro da cidade, o Hospital de Mollet, implantado no anel viário da cidade de Mollet del Vallès, com aproximadamente 27.000m², foi concebido para atender não somente esta cidade, mas também comunidades vizinhas catalãs. Projeto de arquitetura do escritório Corea Moran Arquitectura, traz em seu desenho características projetuais já implantadas em outros hospitais, também projetados pelo escritório, e que tiveram êxito, principalmente pela forma de separação espacial dos fluxos e setores. Mollet foi o primeiro hospital visitado durante a pós-graduação no LA(H)B, e por isso será o primeiro a se apresentado aqui, nesta série #tbtmonizenolahb .

Todo a setorização, programa de necessidades, decisões de implantação, morfologia adotada, acabamentos, escolhas técnicas, são extremamente interessantes. No entanto vou me concentrar em descrever as minhas percepções na visita ao espaço, e não o projeto em si. Ao final do post deixarei algumas fontes com publicações onde você pode encontrar mais descrições sobre o projeto.

Sabe aquele ditado: “A impressão é a que fica.”? As fotos acima resumem a minha primeira impressão. Um espaço amplo, banhado por luz natural, com mescla de cheios e vazios, escadas rolantes conectando pisos, vazios nas lajes que prolongam o pé-direito e permitem contato visual entre todos os pavimentos criando uma conexão vertical entre pavimentos, e uma praça localizada no terreno frontal ao hospital, que permeia este espaço de acesso social e cria grandes jardins entre os blocos, gerando uma conexão horizontal com o entorno, seja ele criado ou existente. Foi de fato uma explosão de percepções. O espaço descrito é a “rambla”, circulação social do hospital, assim denominado pelos espanhóis, pois faz alusão aos tradicionais passeios de pedestres nas cidades catalãs.

As soluções físico-funcionais e espaciais do projeto permitem que este espaço seja exclusivo de acesso público a todos os serviços disponibilizados à sociedade. E a partir disso vem a outra percepção interessante: não parece um hospital. Não ao nosso conceito americanizado de hospital. Nesta área social não se tem contato com nenhum tipo de fluxo de serviços hospitalares. Foi neste momento que ficou claro os estudos de fluxo que fazíamos em sala de aula. Foi interessante perceber o quão confortável era, aos aspectos sensoriais, estar naquele espaço.  Para explicar melhor, elaborei esquema abaixo, onde fica claro a tipologia de fluxos adotada.

Locação das circulações
Fonte da imagem: www.mariocorea.com

Outro aspecto que me saltou aos olhos é o contato com a luz natural. Muitas são as estratégias arquitetônicas utilizadas para proporcionar luz natural na maior parte dos espaços, sejam eles de uso de pacientes, visitantes ou colaboradores. A qualidade espacial é indiscutível. Falando das circulações sociais e de serviço, que são relativamente longas, há sempre uma quebra de continuidade nestes espaços provocadas pela inserção de mais ou menos luz. Além disso, o contato visual com o externo, com os arredores imediato, seja ele grande parte na frente ou a cidade do entorno, acontece em todo o contorno do projeto. Para os ambientes voltados aos pátios centrais, a visual é para grandes jardins imponentes.

A implantação do projeto tira partido do desnível existente e das duas vias que margeiam o terreno para a implantação e definição dos acessos. E aqui mais uma vez a total separação dos fluxos é marcante. Existe um “mundo” acontecendo no pavimento de serviços (subsolo) e no pavimento técnico de ar condicionado que o público, além de não possui acesso, não consegue ter a leitura espacial da existência desses serviços. Particularmente eu acho isso muito interessante. São muitos os serviços de apoio e logística necessários para o funcionamento de um hospital. Além disso, a implantação da edificação em si, associada ao seu tamanho (27.000m²), ao partido horizontal utilizado e à definição de acessos, fez com que o edifício possuísse uma total integração com seu entorno.

E falando de integração com o entorno, as fotos abaixo sem dúvida descreve o meu lugar preferido deste hospital. É a “rambla” social no último pavimento, onde ficam os setores de internação hospitalar. Este espaço é utilizado como área de visitas. Neles os pacientes podem “passear” durante o período de internação e ficar com seus familiares durante os horários de visitas. São várias características projetauis que qualificam este espaço, mas vou citar duas. A primeira é que toda a área possui visual para o parque, é uma linda vista. E a segunda é a conexão vertical com os outros pavimentos através dos rasgos nas lajes. Embora internado, o paciente consegue, além de ter contato com o externo, possui também com o interno, vivendo um pouco do dia a dia do hospital, sempre nas áreas públicas.

Se eu pudesse resumir minha percepção sobre este hospital eu falaria: é sobre humanizar. Projetar para os usuários está na concepção, e não no acabamento. É a arquitetura que tem o poder de proporcionar melhores percepções dos espaços e foi uma grata surpresa viver essa experiência logo na primeira visita. É a beleza na simplicidade. Simplicidade que acolhe. Não há adornos, decorações, adesivos. Há arquitetura, com luz e sombra, cheios e vazios, fluxos definidos e o ser humano no centro, como parte primordial do projeto.

LINKS PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO:

http://mariocorea.com/obras/sanitaria/hospital-general-de-mollet-del-valles

https://www.archdaily.com/474996/hospital-of-mollet-corea-moran-arquitectura

FOTO DE CAPA: Pepo Segura

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