Covid-19 e Hospital de Campanha

O coronavirus tem surpreendido o mundo com a sobrecarga dos sistemas de saúde, eis que surge um novo panorama mundial. Para tentar atender a essa nova demanda temporária, algumas estratégias estão sendo adotadas pelos governos ao redor do mundo. Dentre elas, duas são recorrentes: implantação de hospitais de campanha e ampliação de unidades hospitalares. Falarei sobre o que caracteriza um hospital de campanha, alguns cases já consolidados e a legislação no Brasil sobre esse setor da saúde.

Com origem nas guerras, os hospitais de campanha se consolidaram como estruturas provisórias para atendimento imediato das vítimas, até a possibilidade de transferência para uma unidade hospitalar permanente e segura. Com o contexto pandêmico atual, onde a quantidade de infectados pelo Covid-19 que necessitarão de leitos hospitalares é superior as atuais ofertas dos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados, construir hospitais de campanha tornou-se uma necessidade. A eficiência destes hospitais aos sistemas de saúde está vinculada, para mim, a três características: velocidade de implantação da estrutura física, as normas que legislam sobre essas construções e o atendimento em larga escala. A somatória dessas características culmina no resultado socialmente esperado: o salvamento de vidas.

No contexto atual obtivemos acesso a diferentes estruturas hospitalares planejadas e executadas em tempo recorde. A China, primeiro epicentro mundial do coronavirus, foi a primeira nação a colocar isso em prática. Construiu o  Hospital Huoshenshan , em 10 dias, criando 1000 leitos para atender a pandemia.

Hospital Huoshenshan, em Wuhan
Fonte: www.brasil.elpais.com

No Brasil, o primeiro caso do covid-19 foi confirmado em 26 de fevereiro, em São Paulo, atual epicentro nacional. Com o objetivo de se preparar para a prevista sobrecarga no sistema de saúde, a ampliação de leitos do sistema já foi noticiada pelas autoridades governamentais. Estima-se que o estado de São Paulo terá uma ampliação de 3.400 novos leitos hospitalares, sendo destes 1.400 leitos de UTI. Os leitos serão construídos em Hospitais de Campanha, como o Hospital de Campanha do Pacaembu e do Anhembi e também em ampliações em unidades hospitalares existentes como no Hospital Municipal M’Boi Mirim, através de uma iniciativa da prefeitura e empresas privadas.

Hospital de Campanha do Pacaembu
Fonte: www.veja.abril.com.br

Observando todos os hospitais já construídos até o momento, a modularidade envolvida no processo construtivo é a maior característica e é o que traz velocidade ao processo. Não são novas tecnologias, mas são aplicações eficazes para o momento e a necessidade.

Nesse contexto tem-se a grande pergunta: mas porque não conseguimos construir e/ou ampliar hospitais de forma tão rápida? Acontece que não estamos comparando o mesmo tipo de estrutura hospitalar.

A estrutura hospitalar convencional possui uma regulamentação estritamente complexa e exigente em favor da segurança do paciente e prevenção da saúde. Sabemos que, a mesma normatização que nos conduz a proporcionar um atendimento seguro, também gera burocracias e elevados custos de implementação. Em situações de pandemia, o valor à vida deve estar em primeiro lugar e, as vezes, é necessário abrir mão de determinados requisitos. Além disso, o padrão qualitativo e a durabilidade das construções não são os mesmos adotados em nossas construções permanentes.

Atualmente o Brasil não possui ainda uma normatização específica para os hospitais de campanha. Em 27 de março, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo divulgou um documento com recomendações técnicas para a construção e funcionamento de serviços de saúde denominados Hospital de Campanha, Centro Médico com internação ou assemelhados, para funcionar aos pacientes com o novo coronavírus (COVID-19). As especificações descritas seguem a base da RDC N° 50/2002 e reforça que, embora sejam estruturas temporárias, é necessário que se estabeleçam medidas de proteção para reduzir a infecção pelo coronavírus.

O que temos visto até o momento é a construção de estruturas que tem como objetivo atender a este panorama mundial. Ambientes de internação e observação coletivas, com leitos com afastamento mínimo sendo seguidos e, com a infraestrutura mínima necessária para o salvamento de vidas. E, tratando deste estado de calamidade, muitas características arquitetônicas de humanização do processo são negligenciadas, muitas vezes por necessidade. Realidade muito diferente do que desejamos para os espaços de assistência a saúde. Parece ser um caminho oposto ao qual estamos caminhando, mas julgo um caminho necessário à contenção dos efeitos da pandemia e para o salvamento de vidas.

Fontes:

https://www.spanish-architects.com/es/architecture-news/en-portada/arquitectura-hospitalaria-en-estado-de-alarma

https://brasil.elpais.com/icon_design/2020-02-03/como-a-china-conseguiu-erguer-o-hospital-do-coronavirus-de-wuhan-em-10-dias.html

http://www.saude.sp.gov.br/

https://veja.abril.com.br/brasil/governo-de-sp-deve-inaugurar-hospital-de-campanha-na-proxima-quarta-feira/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *